quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Formação em Cultura Afro-Brasileira com Lucio Sanfilippo

Temos motivos para a legislação, especificamente as leis 10.639/2003 e 11.645/2008, inserir a História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena no currículo? Sim. Mas, a lei por si é letra morta caso não façamos uso dela... “Não é raro assistirmos a certa ‘angustia’ de professores e professoras quando as redes de ensino exigem transformações no trabalho pedagógico a partir de uma nova legislação. (...) Logo surge a pergunta ‘Como fazer?’” (2009)


O estado é e deve ser laico, mas isso não significa deixar de lado a história, da qual faz parte religiões, mitos, cantos e danças pertencentes às populações formadoras da cultura brasileira. Vemos nas escolas as danças portuguesas, fábulas gregas, morais cristãs, então, porque não a história da diáspora africana mostrada com toda sua verdade? História essa onde a religião está intrinsecamente ligada ao cotidiano, principalmente o da luta pela resistência aos ataques imperialistas?


A E. M. Brigadeiro Nóbrega tem levado à sério esse tema e fez, recentemente, uma investida para dar mais subsídios aos professores para conhecer e quiçá, tratar do assunto com mais segurança dentro das salas de aula e pelos corredores da escola. Que saiam dos armários as danças, a comunhão, a lágrima e força expressa nessa cultura!




No dia 26 de julho de 2016, a escola e o SEPE (Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação, núcleo de Angra dos Reis), promoveram uma oficina de Formação em Cultura Afro-Brasileira para os professores, que também foi aberta a todos os alunos e comunidade. 


Essa oficina foi idealizada por Landia Tavares, educadora, sindicalizada e candomblecista, e traz como divulgador da cultura afro-brasileira o professor de educação física, músico e compositor Lucio Sanfilippo.




Landia nos apresentou o mito Iroco e nos ensinou a fazer a boneca Abaiomy. Para acalentar seus filhos durante as terríveis viagens a bordo dos tumbeiros – navio de pequeno porte que realizava o transporte de escravizados entre África e Brasil – as mães africanas rasgavam retalhos de suas saias e a partir deles criavam pequenas bonecas, feitas de tranças ou nós, que serviam como amuleto de proteção. As bonecas, símbolo de resistência, ficaram conhecidas como Abayomi, termo que significa ‘Encontro precioso’, em Iorubá, uma das maiores etnias do continente africano cuja população habita parte da Nigéria, Benin, Togo e Costa do Marfim.




Lucio nos apresentou e ensinou os passo básicos das danças coco, jongo, maracatu e fez uma breve e profunda contextualização com a história:


“Os negros foram sequestrados de várias regiões do continente africano e escravizados aqui; sua cultura tem sido produzida como inexistência por gente que não compreende nada sobre ela, mas que sabe que ela tem o poder de revolucionar. Simplesmente, porque subverte as ordens e usa como protagonista o corpo que a gente tem aprisionado nas carteiras das escolas. Esse corpo, envolvido em todos os sentidos nas religiosidades de matrizes africanas, se movimenta festivamente, recriando padrões onde cheiros, sabores, texturas, cores, sons são essenciais. (...) A escola tem deixado isso de lado, por não saber lidar com isso. Há forças que preferem ignorar os processos por não o entenderem direito e por temerem o poder que isso dá aos indivíduos e aos grupos”.





E, mais especificamente sobre o jongo nas escolas, Lucio escreveu o livro ‘Interdisciplinando a Cultura na Escola com o Jongo’, no qual mostra algumas atividades que serão facilitadoras para se trabalhar um aspecto da cultura afro-brasileira dentro das escolas em cada disciplina: educação física, biologia, artes, música, história,nascia, química, geografia e língua portuguesa.. Nesse sentido, desconfiamos que luta mais, quem sabe melhor. E luta melhor, quem vem carregado de alegria trazida pela dança.





Contato para as oficinas com Lucio Sanfilippo: landiatav@gmail.com




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Bibliografia:
ELAINE MONTEIRO e Monica Sacramento (org.). O Jongo na Escola. Niterói, RJ: UFF, PROEX, FEC, Pontão de Cultura do Jongo/ Caxambu, 2009.

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