Temos motivos para a legislação, especificamente as leis
10.639/2003 e 11.645/2008, inserir a História e Cultura
Afro-Brasileira e Indígena no currículo? Sim. Mas, a lei por si é
letra morta caso não façamos uso dela... “Não é raro
assistirmos a certa ‘angustia’ de professores e professoras
quando as redes de ensino exigem transformações no trabalho
pedagógico a partir de uma nova legislação. (...) Logo surge a
pergunta ‘Como fazer?’” (2009)
O estado é e deve ser laico, mas isso não significa deixar de lado
a história, da qual faz parte religiões, mitos, cantos e danças
pertencentes às populações formadoras da cultura brasileira. Vemos
nas escolas as danças portuguesas, fábulas gregas, morais cristãs,
então, porque não a história da diáspora africana mostrada com
toda sua verdade? História essa onde a religião está
intrinsecamente ligada ao cotidiano, principalmente o da luta pela
resistência aos ataques imperialistas?
A E. M. Brigadeiro Nóbrega tem levado à sério esse tema e fez,
recentemente, uma investida para dar mais subsídios aos professores
para conhecer e quiçá, tratar do assunto com mais segurança dentro
das salas de aula e pelos corredores da escola. Que saiam dos
armários as danças, a comunhão, a lágrima e força expressa nessa
cultura!
No dia 26 de julho de 2016, a escola e o SEPE (Sindicato Estadual dos
Profissionais da Educação, núcleo de Angra dos Reis), promoveram
uma oficina de Formação em Cultura Afro-Brasileira para os
professores, que também foi aberta a todos os alunos e comunidade.
Essa oficina foi idealizada por Landia Tavares, educadora,
sindicalizada e candomblecista, e traz como divulgador da cultura
afro-brasileira o professor de educação física, músico e
compositor Lucio Sanfilippo.
Landia nos apresentou o mito Iroco e nos ensinou a fazer a boneca
Abaiomy. Para acalentar seus filhos durante as terríveis viagens a
bordo dos tumbeiros – navio de pequeno porte que realizava o
transporte de escravizados entre África e Brasil – as mães
africanas rasgavam retalhos de suas saias e a partir deles criavam
pequenas bonecas, feitas de tranças ou nós, que serviam como
amuleto de proteção. As bonecas, símbolo de resistência, ficaram
conhecidas como Abayomi, termo que significa ‘Encontro precioso’,
em Iorubá, uma das maiores etnias do continente africano cuja
população habita parte da Nigéria, Benin, Togo e Costa do Marfim.
Lucio nos apresentou e ensinou os passo básicos das danças coco,
jongo, maracatu e fez uma breve e profunda contextualização com a
história:
“Os negros foram sequestrados de várias regiões do continente
africano e escravizados aqui; sua cultura tem sido produzida como
inexistência por gente que não compreende nada sobre ela, mas que
sabe que ela tem o poder de revolucionar. Simplesmente, porque
subverte as ordens e usa como protagonista o corpo que a gente tem
aprisionado nas carteiras das escolas. Esse corpo, envolvido em
todos os sentidos nas religiosidades de matrizes africanas, se
movimenta festivamente, recriando padrões onde cheiros, sabores,
texturas, cores, sons são essenciais. (...) A escola tem deixado
isso de lado, por não saber lidar com isso. Há forças que preferem
ignorar os processos por não o entenderem direito e por temerem o
poder que isso dá aos indivíduos e aos grupos”.
E, mais especificamente sobre o jongo nas escolas, Lucio escreveu o
livro ‘Interdisciplinando a Cultura na Escola com o Jongo’, no
qual mostra algumas atividades que serão facilitadoras para se
trabalhar um aspecto da cultura afro-brasileira dentro das escolas em
cada disciplina: educação física, biologia, artes, música,
história,nascia, química, geografia e língua portuguesa.. Nesse
sentido, desconfiamos que luta mais, quem sabe melhor. E luta melhor,
quem vem carregado de alegria trazida pela dança.
Contato para as oficinas com Lucio Sanfilippo: landiatav@gmail.com
..............
Bibliografia:
ELAINE MONTEIRO e Monica Sacramento (org.). O Jongo na Escola.
Niterói, RJ: UFF, PROEX, FEC, Pontão de Cultura do Jongo/ Caxambu,
2009.
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